A União de Jornalistas e Comunicadores de São Gonçalo foi criada em 20 de julho de 2010 por um grupo interessado em dar transparência e agilidade às informações que chegam ao povo. Congrega jornalistas, comunicadores, locutores, apresentadores, diagramadores, repórteres, fotógrafos, cinegrafistas, blogueiros de notícias, iluminadores, etc.
domingo, 17 de agosto de 2014
sexta-feira, 1 de agosto de 2014
"João!, cheguei atrasado, mas cheguei...", por Pereira da Silva*
- Ei, amigo! O que foi que lhe deu pra partir tão
cedo!?
A
surpresa me tirou do sério, sem dúvida, porque todos nós, seus leitores, ainda
tínhamos muito que aprender com o brasileiríssimo João Ubaldo Ribeiro, de
Itaparica e do mundo, sobre brasilidade e nossas coisas, de Itaparica, da Bahia
e do Brasil, sobretudo do Brasil contemporâneo em que as amizades sinceras são
raras e as muitas que existem por aí se orientam pelo interesse particular.
Com
João era diferente. Tinha sincera amizade e amor aos itaparicanenses e muitos
brasileiros, de quaisquer níveis, sociologicamente falando. Tanto dos que a ele
procuravam se igualar, quanto dos que apenas sabiam apreciar o seu intelecto, suas
criações literárias, seu riso fenomenal, sua fala mansa mesmo com a voz de barítono,
como diria o nosso querido Ancelmo Gois, colega de O Globo. João é um dos que
estão presentes, de corpo e alma, no Viva
o Povo Brasileiro.
Li
três dos seus livros: Sargento Getúlio, o Sorriso do Lagarto e Viva o Povo
Brasileiro, mas nunca o abandonei porque sempre estava em sua companhia,
sentindo o seu calor, sua voz e sua consciência, lendo-o nas crônicas
dominicais de O Globo. Nelas, o nosso João colocava toda a sua verve
dissertando sobre a política, as coisas da política, sobre os políticos e suas
ações boas ou más, tendo como pano de fundo as inúmeras agruras do povo
brasileiro.
João
era alegre e viveu cada dia de sua vida com intensidade, assim imagino eu ao
tentar recordar as suas belíssimas crônicas em sarcasmo, muitas das vezes, ou
em brincadeirinhas ácidas e conversas diletantes com o seu Zecacomunista de
Itaparica. Em suas crônicas, a política, os causos da política, os políticos e
suas facetas, serviam de pano de fundo para a crítica dos farsantes.
João
era do povo, vivia e convivia com o povo, daqui e do mundo, pois quando estava
no Rio encontrava-se entre os amigos, gente pobre e rica, no bar e nas ruas.
Quando estava em Itaparica, sua ilha e terra natal, encontrava-se entre os
amigos, principalmente pescadores e feirantes, como os amigos: de alpercatas de
couro ou sandálias comuns de borracha sintética, de bermuda e sem camisa.
Informam os amigos deles e nossos, mas que nunca os vi.
Vivendo
no Rio, ou caminhando pelo mundo a fora, sempre a serviço, a serviço da
cultura, não importa se da literatura ou do futebol, estava em espírito na sua
Itaparica. Em suas crônicas, publicadas em O Globo e no Estado de São Paulo,
João Ubaldo Ribeiro mostrava essa sua universalidade. Estando onde estivesse,
em Itaparica, no Rio ou no mundo, João era só brasilidade.
Mesmo
com o seu passamento, sua migração deste para outro mundo, João continuará
entre nós e sempre será lembrado pela sua obra grandiosa, não porque ele é um
imortal, mas porque seus pensamentos, suas palavras e seu coração não nos
deixarão, porque seus livros e suas crônicas nos farão lembrar sempre de sua
presença eterna.
Vejam
o exemplo de Machado de Assis, um dos fundadores da Casa a que João também
pertence, igualando-se a outro João, o Guimarães Rosa; a um Euclides da Cunha,
a um Jorge Amado, e tantos outros inquilinos da Casa dos Imortais, que se foram
a tanto tempo, deixando de luto os brasileiros mortais, até hoje são lembrados
com devoção e evocados por letrados e não letrados como pessoas incomparáveis
nas peculiaridades de suas obras literárias.
João
Ubaldo Ribeiro faleceu na madrugada de sexta-feira, dia 18 de julho de 2014,
aos 73 anos de idade, com saudade dos mestres que estão escrevendo outras
histórias na eternidade.
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*Pereira
da Silva, Pereirinha é conselheiro e presidente da Comissão de
Sindicância da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e primeiro secretário da
União dos Jornalistas e Comunicadores de São Gonçalo - UNIJOR
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