“São Gonçalo,
cidade mui singela
Erguida nos encantos de aquarela,
Namorada de nós, os gonçalenses,
Cidade que cresce dia a dia
(...)
Teu passado, cidade, foi honroso
Teu futuro será maravilhoso...”
(Trechos do Hino a São Gonçalo
Letra do professor Geraldo Lemos)
Letra do professor Geraldo Lemos)
Lindo hino!
Belas aspirações!
Nosso professor Geraldo Lemos,
orgulho vivo de nosso município, é um excelente poeta, mas deixa a desejar como
visionário. E por isso, tenho que fazer o “mea culpa”: há anos atrás, eu o
recriminei porque ele achava que o Hino a São Gonçalo não mais correspondia ao
que a cidade se tornara. E chegou a pedir ao Legislativo Gonçalense que
desconsiderasse sua poesia como letra do hino, no que foi ignorado. E hoje
quero me desculpar e pedir ao meu amigo Geraldo que rasgue aquela minha
redação, censurando por sua atitude de protesto. Mais do que isso, junto-me ao
seu protesto, lutando com ele para que as aspirações contidas em sua bela
poesia não se desmanchem nos atos dos maus políticos.
A “Manchester Fluminense”,
Geraldo, não existe há muito tempo! Somos cidade-dormitório! Se você me
permite, eu trocaria o verso “cidade que cresce dia a dia” por “cidade que
incha dia a dia”.
Vejamos, pois:
Somos o segundo Colégio Eleitoral
do Estado do Rio de Janeiro. Todo mundo vem pedir voto aqui, não obstante o
partido. Mas o que nos dão em troca, meu querido amigo?
Num governo aí pra trás,
colocaram a ufanista placa: “A refinaria é nossa!”. Mas não somos Itaboraí.
Disseram que São Gonçalo seria o Centro de inteligência do Comperj... cadê? O
Governo do Estado prometeu barcas ligando São Gonçalo ao Rio, para desafogar o
trânsito... alguém viu? Inúmeras eleições, políticos se dando bem com a promessa
da Linha 3 do Metrô, que não serviria só a nós, mas a niteroienses e
itaboraienses... o Rio já tem a linha 4 em andamento e nós não podemos nem
sonhar com a 3. Baita desrespeito com a ordenação matemática. Baita desrespeito
com a lógica. Baita desrespeito com o povo amontoado nos ônibus lotados e
lentos. Os “dormidores” de São Gonçalo precisam acordar cedo para enfrentar
horas de condução para a Cidade Maravilhosa. Com sorte, dormem um pouquinho no
Rio, um pouquinho em Niterói, até chegarem à casa.
São Gonçalo perdeu um quartel do
Exército, um Batalhão da PM em Neves, o Batalhão Florestal, o Palacete do
Mimi... mas ganhou dois presídios, mais um lixão travestido em aterro que nunca
foi – e que carinhosamente recebe o lixo de todas as cidades do entorno. Herdou
a bandidagem das UPPs e ainda é candidata “hors concours” a receber todos os
desabrigados existentes em Niterói e até em outras cidades.
Na (des)administração passada,
contrariando a Constituição Federal e o Código Civil, teve uma praça vendida –
a Carlos Gianelli, no Alcântara – para empresários de ônibus e de shopping.
Rasgaram a Carta Magna em nome do progresso – próprio, é claro!
Se não estivesse “sub judice”, a
Fazenda Colubandê, um dos mais notáveis patrimônios históricos, arquitetônicos,
culturais e paisagísticos da cidade, já estaria nas mãos do “Minha Casa, Minha
Vida”, que não deveria se parecer com um trator de destruição do patrimônio do
povo.
E agora a área histórica,
cultural, arquitetônica, paisagística e ambiental do antigo 3º BI está ameaçada!
Servindo de morada aos
desabrigados da enchente de 2010, que causou o desmoronamento do Morro do
Bumba, esse patrimônio vivo, encravado no útero gonçalense, está sendo usado
para abrigar os de Niterói. Querem fazê-lo de casas populares com o objetivo de
desconstruir de forma torpe e vil a nossa história. Mas ninguém pensa em usar o
maravilhoso patrimônio para melhorar a segurança do Município, com mais de um
milhão de habitantes “dormidores” em sua maioria, para que se fixem aqui. Não
pensam em aumentar o efetivo da PM, em criar um novo batalhão, em melhorar as
delegacias, em criar postos de saúde, bibliotecas, teatros, museus, escolas
técnicas, área de lazer... nada! Amontoar desabrigados ali, sem Estudo de
Impacto Ambiental, sem levar em conta os recursos hídricos existentes na área e
que precisam de preservação, é o objetivo. Oferecerão inundação aos que já
sofreram com inundação.
São Gonçalo não precisa continuar
dormindo e nem está de olhos fechados.
O morador de São Gonçalo é
humano, mas os gestores de Niterói e do Estado também precisam ser.
Procurem outras áreas para
abrigar, com respeito, os que sofreram com a perda de suas moradas. Mas não
destruam o pouco que sobra do município, para que ele possa ressurgir das
cinzas em que se torna ante as ações eleitoreiras dos maus políticos, todos os
dias.
Enfim, respeitem São Gonçalo e
deixem o Hino cantar a verdade há muito aspirada!
Frederico Carvalho é professor, comunicador, diretor da TV Ponto de
Vista (www.tvpontodevista.com.br),
presidente da Comissão do Centenário do Prefeito Joaquim Lavoura, Ex-presidente do Rotary Club de São Gonçalo e
atual Presidente da União dos Jornalistas e Comunicadores de São Gonçalo
(UNIJOR-SG)